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«Não se deve querer fazer uma vez mais aquilo que a Natureza já fez perfeito. Não se deve querer parecer verdadeiro pela imitação das coisas.»
George Braque in «Cahiers de G. Braque»
sábado, 2 de maio de 2020
Levar à abstração, 2020
Sara Silva, Levar à abstracção, 2020
Tinta de esferográfica, marcadores, acrílico e lã sobre e entre papel, 21 x 27,8 cm
Comecei por desenhar formas e sólidos geométricos inserindo-os no corpo humano num processo de redução de linhas irregulares, reconhecimento de direcções e fechamento/ completação de formas face sugestões de continuidade. As posições iam mudando e como tal foi surgindo sobreposições. Daí libertei-me das formas e passei para a linha de contorno cada vez mais quebrada e com menos simplificação na redução com o cuidado de não desvendar muito as figuras. Tentei fazer um traço seguro e fluído e ia tentando encontrar um equilíbrio compositivo há medida que acabava um registo e fazia uma pequena pausa para ver o que tinha feito e onde ia me incidir, mudando de riscador tendo em conta a sua espessura e cor e brincando com distintas formas de registo referidas inicialmente. Fui intercalando os modelos, posicionando-me em spots diferentes e é engraçado que fico com a sensação que o meu olho deslizou pelas linhas que dão forma aos corpos. Em alturas nem cheguei a olhar para o papel. Parecia que o olho estava em sintonia com a mão, ao mesmo ritmo.
Para criar mais variações e contraste de uma forma subtil, decidi usar o branco em formas fechadas que parecem-me num plano mais próximo do que a cor do papel que reconheço enquanto fundo, associando algumas a uma superfície que reflecte todos os comprimentos de onda por igual e não estará a ideia de ausência que tendemos associar ao branco fortemente ligada à ideia de superfície, mas claro que o branco pode jogar com outras ligações, luz por exemplo, amarras, limpeza, tranquilidade, certas cerimónias, entre outras.
Posso imaginar figuras diferentes das originais e relações entre elas, posso colorir diferentes áreas, posso adicionar detalhes, posso adicionar texturas, posso adicionar volumes, posso prosseguir com o inexplorado, reinventado e a partir do que já foi explorado, posso recriar. Mas eu, ainda, queria acrescentar a lã, a qual aquecia-nos a alma e o ambiente. No dia seguinte, enquanto minha mãezinha fazia magia, voltei a fazer buraquinhos no meu caderno, contornando um pouco da sua silhueta e por eles passei-a, aquele fio quente, do qual pode-se criar formas e preencher moldando-o como uma continuidade do seu perfil. Dessa vez, não me senti a agredir o papel, até fez me lembrar a infância, a pré-escolar, a idade da descoberta, novidade, leveza e brincadeira. Para ela fez recordar memórias antigas, contou-me histórias, imaginou possibilidades, criou projectos e ainda criou o presente. Fez lembrar o passado (não só a ela) e fez-me imaginá-lo como se estivesse lá. É uma boa nova.
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1 comentário:
Bonito e com história, gostei muito.
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