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«Não se deve querer fazer uma vez mais aquilo que a Natureza já fez perfeito. Não se deve querer parecer verdadeiro pela imitação das coisas.»
George Braque in «Cahiers de G. Braque»

quarta-feira, 25 de maio de 2022

Na Calheta, São Jorge



Sr. Honório no seu quintal, tarde de 23 maio 2022
Aguarela sobre papel de aguarela, A4

Às vezes não me apetece desenhar e pintar, outras tenho essa vontade enorme, mas não sei o quê. E outras sei exatamente. Eu tinha me proposto fazê-lo porque me soube bem na última vez e porque estava aberta para tal. Hoje de manhã uma preguiça enorme e moinha. Mas de tarde depois de tratar de algumas coisas e falar com o Sr. Honório, vi o a ir tratar do quintal e pensei ter tão poucas imagens dele. Queria ter mais registos e vi ali uma oportunidade. Fui buscar as aguarelas de que degustei e avancei. Comecei por ele, acho que foi querer fixa-lo, antes que se fosse embora ou que começasse a se movimentar muito. Porque no quintal por norma não para muito tempo no mesmo sítio. Teve alturas que que pintava-o numa posição no meu desenho, mas analisando-o noutra, incluindo os dois perfis. E o quintal também fui intercalando com ele, porque tive a necessidade de apanhar as proporções dele com a envolvência. Esteve à volta dos laçarotes no tomateiro e tinha uma navalha ou faca na mão, onde só vi a parte afiada à mostra. Já não sei bem a altura que semeou e plantou os diferentes legumes e vegetais, mas no seu quintal tem cebolas que ainda não estão prontas para se colher, a não ser as suas ramas, o chamado cebolinho; tem os tomates que já estão a crescer a algum tempo, mas não muito, mas mais de um mês quase de certeza; batatas que também são relativamente recentes, aliás a sua plantação mais recente, junto com os nabos (penso eu que o são) - estes tapadinhos com uma rede presa numa grade de madeira; alfaces, já grandes, que foram semeadas depois dos tomateiros e cebolas. Também já tinha couves que revoltou a semear, salsa, muitos espinafres que já usei nas minhas sopas de tomate, cenoura e abóbora; araçaís e diferentes flores à volta do passeio/corredor. Rosas, entre outras, das quais a maioria não sei o nome. De vez em quando vem os pássaros que segundo o Sr. Honório gostam de terra remexida. Mas não é só os pássaros, também os gatos e cães que adoram ir lá fazer as suas necessidades nos montinhos feitos das batatas. Esse quintal ou jardim é muito bom estar presente porque nele vivem e passam inúmeros animais. Houvesse muitas vezes pássaros, eles a cantar. Muitos diferentes. A noite por ser perto do mar, os cagarros. Ouvi-os mesmo agora. Também ouvi a filarmónica que toca algures. Há um sítio de uma aqui perto, na rua de cima, perpendicular à minha, onde provavelmente vem o som dos seus ensaios. E houvesse os carros e motos, pouco, mas às vezes, por ser uma zona central. Não me faz confusão, não é em demasia, não considero um ruído, algo que me incomoda. Ouve-se o vento também. Bem já estou aqui a perder o fio à meada. O desenho resultou em algo muito colorido como o dia que estava. Estava sol e não estava frio. Os dias começam a aquecer.

23:11; segunda feira, 23 maio 2022
PS. O Sr. Honório estava cansado de ir pescar ontem. Levantou-se cedo, pelas 5h, e  às 6h estava a sair para o mar. Levou o dia todo no mar e ainda se magoou. O homem é de ferro e não gosta de ir ao Centro de Saúde. :)




No cais, de tarde, 24 maio 2022
Aguarela sobre papel de aguarela, A4

Tinha estado a pintar um fragmento de uma aguarela no tecido de tela, e mesmo antes, penso eu, estava a propor-me ir ao cais, em vez de deixar-me ficar por casa e não aproveitar o dia. Levei o bloco e as aguarelas, com o resto das coisas e fixei-me na água e nas rochas. Inicialmente, vi o mar e quis o desenhar. Lembrei-me dos trabalhos do David Hockney, na forma como desenhou a água nas piscinas e nas suas fotografias. Avancei. Tinha muitas manchas com contornos bem definidos, em tons sobretudo de verde, castanho e um género de cinza azulado. Tentei captá-lo. Só que tive a necessidade de ter um ponto de referência, nomeadamente as rochas, que foi o que surgiu primeiro. No cais, quando cheguei, não havia ninguém. Entretanto chegou vários autocarros turísticos, cada um por sua vez, e, mais tarde, jovens. Deviam estar no intervalo das aulas, pelo que percebi. Depois do meu desenho, ainda estendi-me na toalha uma nica e logo arranquei para casa, arrumar coisas. Nisso tudo, continuo a sentir-me mais à vontade quando não há pessoas desconhecidas à volta, quando passo despercebida, acho que é mais isso. Mas a verdade é que ninguém interagiu comigo e deixaram-me no meu canto, com a exceção de uma senhora que todos conhecem, que já na sua reforma, percorre a Calheta toda e fala com todos. 

Beijinho
Sara Rocha Silva

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