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«Não se deve querer fazer uma vez mais aquilo que a Natureza já fez perfeito. Não se deve querer parecer verdadeiro pela imitação das coisas.»
George Braque in «Cahiers de G. Braque»

domingo, 22 de maio de 2022

Fim do dia no Cais





Fim do dia no cais, 21 mai 2022
Aguarelas sobre papel de aguarela, A4

Ontem assisti às Oficinas Singulares, a conversa entre a Prof. Alexandra Baptista e o Arq. Bruno Vieira. Senti-me inspirada com os seus desenhos e com as palavras de ambos. Estava um dia quente e com solinho, mal cheguei a casa, depois de um café, sai para o cais e para minha surpresa as pessoas que estavam nos banhos encontravam-se a se despachar para sair. Tinha chegado o nevoeiro e ameaçava chover, mas não estava frio. Passei por eles, dei uma volta à procura de um sitio para se estar. Na segunda hipótese que foi instantânea por conhecer o espaço, tinham chegado uns pescadores com o seu barco, e daí fui para a terceira hipótese de forma também muito imediata. Procurei conforto. Um sítio que eu gostasse de estar e onde estivesse mais isolada. É uma zona onde já fomos comer, a partir de uma roulotte do outro lado; onde já fomos andar de skate, passear a Nala, entre outras coisas provavelmente que agora não me vêm. Apareceu uma menina num carro, no tejadilho com os braços estendidos a descer a subir, que puxou por mim. Tinha uma camisa amarela e com as cores meio cinzas, azuis e verdes do ambiente parecia ser aquele ponto que fazia toda a diferença, no entanto foi rápido e o tempo de preparar o estaminé foi o suficiente para o carro partir, mas foi o culminar do amarelo no meu desenho, um amarelo quente, dourado, onde flui em diferentes nuances e opacidades, também influenciado pelo nevoeiro que cobria a encosta, passando da direita para a esquerda. Penso que na fotografia não se vê tanto esse efeito, mas no caderno vê se bem esse estado aquoso, onde contornos diluem-se. E quando desenhei comecei por cima, pela linha do horizonte que provinha da encosta, mas com as camadas, onde não esperei propriamente que secassem, fui diluindo esse contorno ou dando mais detalhes, diluindo também o que considerava menos impreciso. Desci pela página e fui dar à arvore, num plano mais próximo. Não era suposto esse frame, mas sim algo mais panorâmico como os desenhos do Bruno Vieira. Era o que pretendia mas eu tenho essa coisa de representar o que vejo por comparação de proporções/ medidas, apesar de também procurar fluidez. 
O segundo foi feito a assegurar a página que secava.  A forma de encadernação do bloco faz com as páginas tenham pouca flexibilidade. Passei a água suja do amarelo anterior e desenhei o cais. Pessoas passavam, entre as quais, registei um homem já com alguma idade, duas raparigas que foram caminhar ao fim do dia, e um cão que também estava a passear com os donos, um pequenote. Umas manchas também que representam o trabalho do Pantónio, uns peixes que supostamente deviam saltar do mar para a fachada e que me fazem associar as imagens, sinais, símbolos e nomes deixados pelos viajantes dos barcos - um género de tags. Antes de situar isso, parti das fachadas verticais para ter como me guiar e fui procurando uma harmonia. A questão do espaço vazio ficou mais assente na esquerda, era onde tinha menos flexibilidade de movimentos. Mas também foi feito tudo com leveza penso eu, até mais do que no anterior penso eu, também a concentração já estava diferente, já estava mais no deixa ir e menor. Resultaram fusões que acho piada; linhas gestuais, apesar do pequeno formato, e até diferentes tipos de mancha e organicismo. Gostei e no fim fui toda contente para casa com o meu saquinho, copinho na mão com o pincelinho, garrafinha de água e caderno.

Foi assim!




2 comentários:

Alexandra Baptista disse...

E que bom que é voltar a ver-te aqui.
Beijinho.

Sara Rocha Silva disse...

Obrigada Prof. Deu-me essa vontade depois da conversa do Bruno Vieira ☺️ e da vontade de registar os meus últimos dias por São Jorge. Nessas conversas das Oficinas Singulares há sempre algo muito inspirador.