Sara Rocha Silva, "Sózinha" no Portinho da Queimada, 2020
Eu andava a desvalorizar o que desenhava. Pensei é falta de cor, é do caderno, é da concentração, é do movimento, mas hoje 16 de julho, 23:53, já olhei com outros olhos. Atribuímos valores simbólicos, afectivos, estéticos, entre outros, conforme por vezes humores, sensações, emoções, incertezas, padrões, quebras, rupturas, distanciamento, sentimentos, conhecimentos, preconceitos ... Eu já estava a espera. Hoje penso que não posso é parar. Para além do desenho nos ajudar a fixar não só um rasto no caderno de uma passagem que pode nos levar a recordações como uma lembrança que trazemos de uma viagem, mas também registar na memória o que está à nossa volta com outra facilidade, por exemplo eu sou muito má em afixar os nomes dos lugares e orientação no espaço, é como se fosse numa viagem de carro observando pela janela como quem vê um filme. Não sei o que fica a norte e a sul porque não é o que me interessa mais, mas acho que o facto de desenhar ajuda-me a prestar atenção de um modo diferente, mais focada, talvez por olhar e reolhar para uma região ou me levar a perguntar, mas como se chama esse lugar, mas isso parece aquilo ou acolá por comparação, entre outros, como uma análise, uma análise que não pára logo a seguir ao desenho dado como (in)acabado, mas que continua quando olho para ele e para outros que não se limitam a esses registos gráficos mas a todos os outros e muito mais. No entanto, isso também é fruto de um presente que por sua vez se liga a um passado e futuro talvez de expectativas, idealizações, medos, ou falta deles até, também eles ligados.
Estou dizendo essas coisas para tal como o desenho, eu ter um registo, dessa vez de um pensamento que até pode vir mudar ou a crescer. Isso pode não soar a novo, mas às vezes é preciso para o organizarmos ou até mesmo para não esquecer como quem sublinha uma frase que gosta de um livro.
Em relação ao desenho foi feito em mais um dia no Portinho da Queimada, estava "sózinha" e penso que foi no dia 14 de julho, já que foi depois da partida dos meus pais, dia em que recebi um novo caderno e antes do churrasco.
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«Não se deve querer fazer uma vez mais aquilo que a Natureza já fez perfeito. Não se deve querer parecer verdadeiro pela imitação das coisas.»
George Braque in «Cahiers de G. Braque»
sexta-feira, 17 de julho de 2020
"Sózinha" no Portinho da Queimada, 2020
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1 comentário:
E ainda bem que recebeste um novo caderno... para refletir, para desenhar.
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